Como funcionava a paróquia entre 1962 e 1965.
Construção do CRESMAM |
Realizar uma fotografia exata do funcionamento da paróquia de Pedreiras nos anos sessenta pode transparecer uma certa subjetividade de minha parte. Contudo, vou procurar
ser fiel o mais que puder. A primeira coisa que é necessário levar em consideração é a extensão
territorial da paróquia. O campo de ação pastoral compreendia os municipios de Lima Campos,
Capinzal do Norte até Santo Antônio dos Lopes
por um lado e por outro lado se extendia
até Poção de Pedras. Como se pode
ver era uma área imensa que
corresponde muito bem, nos dias
de hoje, a uma diocése. Uma segunda realidade a não
negligenciar são os meios de
locomoção utilizados na época. Para se
chegar à
todos os pontos da paróquia se utilizava muitas vezes
o ônibus, o misto, o caminhão e à vezes o cavalo. Quanto às estradas é bom não falar
para não relembrar o sofrimento.
O trabalho pastoral nas áreas mais distantes
era realizado durante o verão. Muitas vezes, passava-se uma semana viajando no interior, como se
dizia na época.
Um dia era reservado para cada lugar. Chegava-se à
tardinha e à noite, depois do jantar, o povo se
reunia na capela e era o momento de uma
pequena pregação e depois as intermináveis
confissões. No dia seguinte, era
celebrada a missa, em seguida se realizava os casamentos e por ultimo os
batizados. Depois do almoço, já era o momento de pensar
a tomar outro meio de transporte disponível
afim de chegar de novo, à tardinha, no lugar seguinte. E o mesmo
programa se repetia de um lugar a outro.
Como se pode constatar, todo este
trabalho era extremamente cansativo,
desgastante e para mim inoperante. A minha visão portanto era outra, pois uma pastoral
centrada simplesmente numa
sacramentalização leva à um infantilismo e cria um «clientelismo» consumidor da fé. Mas essa
era a visão dominante nesta época apesar
de se começar já
a ouvir soar
os sinos do Vaticano II , para o mundo inteiro , nos convidando à uma mudança radical na nossa maneira de ver
e de agir junto às comunidades .
Foi esta
visão de cristão consciente e engajado,
como membro ativo na comunidade, que procurei
inserir e integrar junto
às diferentes associações da paróquia. Claro, na sede paróquial a
sacramentalização fazia tambem parte
da sua paisagem pastoral. Mas já inserida dentro d’um outro contexto. Para a passagem
d’um modelo à outro teriamos que dar tempo ao tempo. Várias iniciativas
foram lançadas para
redinamizar os diferentes grupos da paróquia. É bom lembrar que
ainda nesta época o padre era a pessaoa
que mandava tudo, que conhecia tudo e que só ele era o dono da verdade. O
cristão era um mero expectador, um seguidor, sem nenhuma iniciativa, enfim um
simples número. Era
urgente reverter esta situação. Por
isso todo o esforço pastoral foi de criar
um espaço de liberdade onde cada
cristão pudesse exprimir sua voz e ter tambem
sua vez na transmissão da mensagem e na organização da vida paroquial.
O que muito contribuiu para reforçar esta dinâmica foi a realização de várias semanas
catéquéticas. A JAC também muito ajudou a cristalizar esta idéia. Outra
iniciativa decisiva do desejo de que os cristãos pudessem
assumir tambem um lugar
de decisão na igeja local foi a
criação do Conselho Paroquial e através dele
os primeiros passos para a
implantação do dizimo. No plano humano e social
vimos também, nesta época,
despertar um grande
desejo por experiências cooperativistas. Cabe notar aqui o projeto
de coopeerativa desenvolvido em Marianópolis, ponto central de todo este movimento. Com a saida de Dom Delgado para
Fortaleza, Dom Motta procurou se desfazer aos pouco desta experiência. Foi mais
uma tentativa para despertrar na consciência cristã que é possível solucionar os
problemas socias de nossas comunidades quando formos
capazes de nos unir. Esta
experiencia também nos indicava
que o nosso trabalho pastoral
deveria ter uma visão mais larga
levando em conta a pessoa humana como um todo, isto é, em todas as suas dimensões.
Para concluir,
posso afirmar , com muita modéstia, que deixando
a paróquia de Pedreiras, apesar
das resistêcias e dos
limites humanos e materiais, o terreno
foi trabalhado e a
semente foi plantada para receber novas
iniciativas que viessem
reafirmar a presença e o lugar dos leigos na
longa e árdua caminhada de uma
pastoral participativa.
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