3° Postagem da série sobre o trabalho do Sr. Luis Mario Lula em nossa paróquia. Os relatos foram dados pelo próprio Sr. Luis Mario, que hoje mora no Canadá.
Avaliação do crescimento da igreja nestas últimas décadas.
Apostolado da Oração no início da década de 1980 |
Torna-se muito difícil para mim avaliar a evolução
da Igreja nestas últimas décadas. Quem sou eu para a avaliar a marcha de uma instituição? Mas para responder esta questão, poderia simplesmente
sublinhar um pouco sobre
o espírito que pairava nos anos
60 e a situação da igreja nos dias de hoje. O que vou dizer não é
para ofuscar quem quer
que seja e nem é uma crítica
negativa junto àqueles e àquelas pessoas
que se doam de corpo e alma para o bem da comunidade e o crescimento da
igreja: o meu grande respeito e a minha compreensão para
com todas estas pessoas. O meu testemunho é apenas uma simples constatação e um
questionamento de uma
pastoral de massa. Espero a ninguém
ofender.
Os anos 60
foram para a Igreja uma
época de muita experiencia, de efervecência
e de muito esperança. A população estava anciosa à espera de algo que viesse matar sua
sede com uma mensagem renovada e
o desejo de se engajar mais profundamente afim de contribuir na construção de um mundo melhor, mais
justo e mais humano. Esta esperança
fazia com que os corações das pessoas se
abrissem com mais facilidade. Mas, reações
à esta abertura se faziam sentir no
interior mesmo da Igreja diocesana. Podia se
distinguir entre o grupo dos monsenhores e cônegos
arraigados às antigas práticas de pastoral e o grupo dos padres mais
novos que procuravam estabelecer uma
linha de trabalho, inspirado pelos novos ventos oriundos do Vaticano
II. Diante desta situaçao os padres mais
novos eram transferidos de paróquia em paróquia no fim de cada retiro anual. Foi assim que de Morros, minha primeira paróquia, fui transferido para Pedreiras. É importante
frisar que toda este desejo
de mudança no âmbito da igreja e
em todas as esferas das
atividades humanas, foram cerceados pelo
golpe militar de 64. Este acontecimento
teve uma repercussão imensa dizimando quase todas as lideranças c omunitárias. O medo se instalou. Ninguem
podia se questionar. Cada pessoa,
isolada procurava viver a sua vida
como podia. Um clima de desconfiança pairava em todos os setores da vida. Enfim, foi um período de escuridão que paralisou toda uma dinâmica que começava a s’instalar na sociedade.
Certamente, a nossa igreja de hoje
sofre ainda as consequências desta época
de silêncio e de amordaçamento. Talvez, fazendo um exame mais
rigoroso deste período, podemos encontrar uma certa explicação do caminho que tomou a igreja de hoje na elaboração de sua pastoral.
Desde 1971, época em que vim para o Canada, os meus
contatos com o mundo ecclesial são pouquíssimos. O que posso dizer
é que hoje observo uma mudança quase radical na igreja.
Voltou-se à uma religiosidade quase doentia. As emoções são uma constante nas celebrações e nas diversas
manifestações religiosas. O movimento «pentecostista » invadiu todas
as esferas das atividades pastorais. Voltou-se ao que predominava antes dos
anos 60, isto é, à uma religião voltada para si mesma sem nenhuma
repercussão
junto aos problemas que afligem pessoas
da comuinidade. Cada um por si e Deus por
todos. Uma fé que reforça e abastece
o individualismo. O comunitário se expressa exclusivamente nas
manifestações de religiosidade. A sacramentalização é o ponto central de toda a
ação pastoral, guardando os cristãos numa total infantilidade.
Creio que tudo o que acabei d’enumerar é fruto de tudo aquilo
que respiramos. Um mundo sem contestação e
sem questionamentos. Um mundo tranquilo onde cada pessoa procura respirar sua própria felicidade…Um mundo onde cada
pessoa é conformada consigo mesma. Claro que a Igreja, na sua hierarquia, se
sente também conformada e acomodada.
Até quando a Igreja ficará marcando passos?...
3 comentários:
Discordo um pouco do Sr.Lula, acredito que a Igreja tem como missão principal cultivar o "espíritual" do seu povo.As lutas sociais, pelo conforto material do povo devem se dar em outro lugar.Com os ventos de mudança pós concílio vaticano II, o que se viu foi se firmando um catolicismo “a la carte”, em que cada um escolhe a parte que prefere e rejeita o prato que considera indigesto. Na prática um catolicismo dominado pela confusão de papéis, com sacerdotes que não se aplicam com empenho à celebração da Missa e às confissões dos penitentes, preferindo fazer outra coisa (política, por exemplo). E com leigos e mulheres que buscam subtrair um pouco por vez, o lugar do sacerdote para ganhar um quarto de hora de celebridade paroquial, lendo a oração dos fiéis ou distribuindo a comunhão.Uma Igreja espíritual, é na minha concepção o modelo de Igreja ideal, para enfrentar-mos tempos tão conturbados.A crise de vocações sacerdotais, e o próprio fato do Sr.Lula ter deixado o sacerdócio, me deixam mais do que certo de minha opinião.
Querido Lula,
Li com atenção tua narrativa sobre a Pastoral na Paróquia de São Benedito em Pedreiras nos anos 60 e as dificuldades de padre jovem nas famosas desobrigas a cavalo (hoje os seminaristas vão fazer suas pastorais de carro ou nem se quer fazem pastoral porque é preciso ficar no Seminário e evitar o mundo que é cruel). Esta experiência numa Igreja em plena mudança com o Concílio Vaticano II fez-me lembrar de minha participação nas Missas em Igarapé Grande com apenas cinco anos de idade em 1967 em que, apesar da miséria geral nos empolgávamos com os Sermões do Frei Paschoal Rotta e com os cânticos das Irmãs de Jesus Crucificado. Cheguei da Missa um dia em casa e disse para minha mãe Maria:
- Escuta só mãe o cântico novo que eu aprendi hoje na Missa com as freiras! E ai cantei com a empolgação de menino que se alegrava só de brincar com o barro vermelho da rua do alto da ladeira em Igarapé Grande, a Balada da Caridade, que ainda hoje não me sai da memória:
Para mim a chuva no telhado
É cantiga de ninar
Mas o pobre meu Irmão
Para ele a chuva fria
Vai entrando em seu barraco
E faz lama pelo chão
Como posso
Ter sono sossegado
Se no dia que passou
Os meus braços eu cruzei?
Como posso ser feliz
Se ao pobre meu Irmão
Eu fechei meu coração
Meu amor eu recusei? (bis)
Para mim o vento que assovia
É noturna melodia
Mas o pobre meu irmão
Ouve o vento angustiado
Pois o vento, esse malvado
Lhe desmancha o barracão
Quando terminei de cantar minha mãe disse: - Menino isto não é musica de Igreja. Isto é comunismo! Pára de cantar estas coisas!
Minha mãe tinha medo e com razão porque muitas lideranças tinham sido expulsas do país por músicas de teor social como esta.
Estávamos em pleno Regime Militar na República Brasileira Pós Estado Novo e em plena Guerra Fria. Para nós crianças inocentes não era comunismo beber aquele leite grosso que nós chamávamos de leite porronca. A Aliança para o Progresso do governo dos Estados Unidos era a contrapartida da mudança social da União Soviética.
Lula, ainda hoje este este cântico não é de Igreja porque na nova Liturgia de 2012 temos que procurar cânticos mais apropriados à Liturgia da Missa Barroca ou similar ao canto gregoriano em que só a alma conta, o corpo não. Tú tens razão.
Querido Lula,
A tua experiência continua atual e o teu trabalho social é mais do que necessário, mesmo que o Brasil de hoje esteja em situação econômica melhor, graças à dependência das exportações para a China e aos juros mais altos do mundo que atraem os especuladores estrangeiros.
Continua Lula a escrever estes artigos históricos, que muito ajudarão os seminaristas e leigos de hoje a compreenderem como era a administração de uma Igreja paroquial nos terríveis anos de Ditadura Militar.
Hoje Lula tá todo mundo conformado até o dia em que a casa cair. Espero que façamos algo antes que isto aconteça porque a Igreja de Cristo somos todos nós leigos e padres e há muito por fazer, Parabéns pelo teu trabalho no CRESMAM e continua escrevendo para nós e para o mundo através da internet. Se tú não escreveres as pedras da ponte que caiu em Pedreiras nos anos 80 escreverão por ti e o Pecuapá vai acordar do seu sono debaixo da mesma ponte e vai dizer:
- Padre Lula, tú não és mais a figura apagada como dizia Dom Filipe Condurú Pacheco. Tú és o homem do ano 2012 nestes 400 anos de fundação da cidade de São Luís e da Evangelização do Maranhão. Depois destas palavras, Pecuapá voltou a dormir debaixo da ponte de Pedreiras.
Padre Clauber Pereira Lima, filho de Pedreiras e batizado por Monsenhor Gérson Nunes Freire em 1964.
Padre Clauber, achei interessante seu texto e fiquei curioso com o fato de seres filho de Pedreiras. Se puder entrar em contato, gostaria de publicar sua história.
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