A Justiça Social e o trabalho de Luis Mario Lula - parte 5

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012 0 comentários

5° Postagem da série sobre o trabalho do Sr. Luis Mario Lula em nossa paróquia. Os relatos foram dados pelo próprio Sr. Luis Mario, que hoje mora no Canadá. 

Em que contexto social viviam as prostitutas da época.

Um dos pontos que me chamou logo atenção quando cheguei em Pedreiras foram as noticias de que as mulheres da ‘zona’ se aspergiam com gazolina e se ateavam fogo. Para muitas pessoas com quem eu falava, esta situação lhes parecia normal. Porque? Muita gente achava que este tipo de gente não era gente. Comigo mesmo, eu me  questionava da razão profunda de toda esta violência e do desprezo à vida. Aos poucos,  fui percebendo que o contexto no qual viviam as prostitutas eram um contexto de uma extrema exclusão social. Exclusão da propria família, exclusão da sociedade e exclusão de tudo e de todos. O fato de ser uma mulher prostituta implicava carregar, consigo  mesma, por toda a vida, uma marca indelével que lhe distingueria da maioria das pessoas  consideradas como de ‘bem’. Eram dois mundos que se confrontavam e que nunca poderiam se encontrar. É por esta razão que elas, as prostitutas, eram confinadas a viver  num mundo à parte chamado ‘zona’, justamente para bem distinguir a linha de demarcação entre as pessoas de ‘bem’ e entre elas, as pessoas que valiam ‘nada’. Este contexto de exclusão e de confinamento provocava indubitavelmente na mulher prostituta  uma imagem de desvalorização total, como ser humano. Meio à este contexto,  uma  série de consequências sociais e econômicas se cristalizavam, dia a dia, no interior mais  profundo da vida de cada mulher. Logo ao entrar neste mundo de exploração, de dependêcia, de espoliação e de isolamento a jovem mulher começava já a sua ‘nova’ vida  hipotecada pelo resto de sua vida. O seu sonho de melhorar sua vida, divulgada por muita gente, não passava de miragem e de um engodo falacioso. Não muito tempo, ela  constatava em torno de si não outra coisa do que a miséria, a exclusão, o desrespeito, a doença, a infelicidade e o estígma. O que se conclui deste drama social é que a prostituição gera a miséria e a miséria gera a prostuição num verdadeiro e infernal círculo vicioso. Quem entrava nesta engrenagem nunca saberia quando poderia sair.
Um outro ponto importante que passava despercebido, aos olhos de todos, era  a maneira de troca das mulheres de uma ‘casa’ à outra, de um Estado a outro. Era o tal tráfico de seres humanos do qual muito se fala hoje mas que na época ninguém dava por conta. A mulher que era transferida para uma outra ‘casa’ ou para um outro Estado, lhe acarretava ainda mais dívidas de tal maneira que nunca ela poderia liquidar a sua divida. E a única solução que lhe restava era continuar na mesma ‘vida’.
Reportagem sobre o CRESMAM no jornal Folha de São Paulo de  05 de janeiro de 1997 (Clique para ampliar)

Em Pedreiras constava, nesta época, vários tipos de casas de prostituição. Havia as ‘casa de cômodos’ (66%) que abrigavam a partir de 3 mulheres além da ‘madame’ que era a proprietária ou responsável direta. Havia tambem as ‘casas de quartos’ (26%) nas quais viviam 3 ou mais mulheres sendo que os cômodos eram independentes, não havendo a presença de ‘madame’. Existiam também ‘Bar com quartos’ (4%) e ‘Boite com quartos’ (4%). A Boite mais falada da época era a ‘Formiga’, local onde hoje fica a igreja Santa Teresinha (Trizidela do Vale). Estes dados são  interessantes pois eles nos possibilitam de constatar, mesmo no mundo prostitucional, a existêcia de duas classes entre as prostitutas; a ecônomicamente mais priviligiada e a mais miseravel. A primeira, logicamente, é constituida de mulheres de aspecto físico de certa foma mais atraente, conseguindo portanto freguesia de melhor nível econômico.
Poderiamos ainda chamar a atenção para muitos outros aspectos sobre o  contexto social no qual viviam as prostitutas, em Pedereiras, nos anos 60. Mas o que foi dito é suficiente para entendermos que o mundo da prostituição é um mundo de falsas ilusões junto àquelas que sempre foram iludidas e ludibriadas. Concluindo, procuremos unir nossas energias e nosssas convicções na construção de um mundo justo e no respeito da dignidade de cada ser humano. Não basta perceber os males da sociedade – é preciso propor alternativas novas…

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