5° Postagem da série sobre o trabalho do Sr. Luis Mario Lula em nossa paróquia. Os relatos foram dados pelo próprio Sr. Luis Mario, que hoje mora no Canadá.
Em que contexto social viviam as prostitutas da época.
Um
dos pontos que me chamou logo atenção quando cheguei em Pedreiras foram as
noticias de que as mulheres da ‘zona’ se aspergiam com gazolina e se ateavam
fogo. Para muitas pessoas com quem eu falava, esta situação lhes parecia
normal. Porque? Muita gente achava que este tipo de gente não era gente. Comigo
mesmo, eu me questionava da razão profunda
de toda esta violência e do desprezo à vida. Aos poucos, fui percebendo que o contexto no qual viviam
as prostitutas eram um contexto de uma extrema exclusão social. Exclusão da
propria família, exclusão da sociedade e exclusão de tudo e de todos. O fato de
ser uma mulher prostituta implicava carregar, consigo mesma, por toda a vida, uma marca indelével que
lhe distingueria da maioria das pessoas
consideradas como de ‘bem’. Eram dois mundos que se confrontavam e que
nunca poderiam se encontrar. É por esta razão que elas, as prostitutas, eram
confinadas a viver num mundo à parte
chamado ‘zona’, justamente para bem distinguir a linha de demarcação entre as
pessoas de ‘bem’ e entre elas, as pessoas que valiam ‘nada’. Este contexto de
exclusão e de confinamento provocava indubitavelmente na mulher prostituta uma imagem de desvalorização total, como ser
humano. Meio à este contexto, uma série de consequências sociais e econômicas se
cristalizavam, dia a dia, no interior mais
profundo da vida de cada mulher. Logo ao entrar neste mundo de exploração,
de dependêcia, de espoliação e de isolamento a jovem mulher começava já a sua ‘nova’
vida hipotecada pelo resto de sua vida.
O seu sonho de melhorar sua vida, divulgada por muita gente, não passava de
miragem e de um engodo falacioso. Não muito tempo, ela constatava em torno de si não outra coisa do
que a miséria, a exclusão, o desrespeito, a doença, a infelicidade e o estígma.
O que se conclui deste drama social é que a prostituição gera a miséria e a miséria
gera a prostuição num verdadeiro e infernal círculo vicioso. Quem entrava nesta
engrenagem nunca saberia quando poderia sair.
Um outro ponto importante que
passava despercebido, aos olhos de todos, era
a maneira de troca das mulheres de uma ‘casa’ à outra, de um Estado a outro.
Era o tal tráfico de seres humanos do qual muito se fala hoje mas que na época
ninguém dava por conta. A mulher que era transferida para uma outra ‘casa’ ou
para um outro Estado, lhe acarretava ainda mais dívidas de tal maneira que nunca
ela poderia liquidar a sua divida. E a única solução que lhe restava era
continuar na mesma ‘vida’.
Reportagem sobre o CRESMAM no jornal Folha de São Paulo de 05 de janeiro de 1997 (Clique para ampliar) |
Em Pedreiras constava, nesta época,
vários tipos de casas de prostituição. Havia as ‘casa de cômodos’ (66%) que
abrigavam a partir de 3 mulheres além da ‘madame’ que era a proprietária ou
responsável direta. Havia tambem as ‘casas de quartos’ (26%) nas quais viviam 3
ou mais mulheres sendo que os cômodos eram independentes, não havendo a
presença de ‘madame’. Existiam também ‘Bar com quartos’ (4%) e ‘Boite com
quartos’ (4%). A Boite mais falada da época era a ‘Formiga’, local onde hoje fica
a igreja Santa Teresinha (Trizidela do Vale). Estes dados são interessantes pois eles nos possibilitam de
constatar, mesmo no mundo prostitucional, a existêcia de duas classes entre as
prostitutas; a ecônomicamente mais priviligiada e a mais miseravel. A primeira,
logicamente, é constituida de mulheres de aspecto físico de certa foma mais
atraente, conseguindo portanto freguesia de melhor nível econômico.
Poderiamos ainda chamar a atenção para
muitos outros aspectos sobre o contexto
social no qual viviam as prostitutas, em Pedereiras, nos anos 60. Mas o que foi
dito é suficiente para entendermos que o mundo da prostituição é um mundo de falsas
ilusões junto àquelas que sempre foram iludidas e ludibriadas. Concluindo,
procuremos unir nossas energias e nosssas convicções na construção de um mundo
justo e no respeito da dignidade de cada ser humano. Não basta perceber os males da sociedade – é preciso propor
alternativas novas…
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